quinta-feira, 29 de março de 2018

Proantar está ‘gravemente ameaçado’ dizem pesquisadores brasileiros

A pesquisa brasileira nunca foi levada a sério. Sempre lutou contra ameaças por falta de investimentos. Mas agora a situação piorou. Pesquisadores dizem que o programa brasileiro na Antártica, o Proantar, está gravemente ameaçado em razão da crise financeira nacional.
Simulação da nova Base Comandante Ferraz em Rei George (Ilustração: Marinha do Brasil)

A matéria é de Herton Escobar, publicada pelo Estadão. Uma carta assinada por 17 lideranças científicas do programa, enviada na semana passada ao ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, e ao comandante da Marinha do Brasil, Bacelar Ferreira, diz que
"Infelizmente não há recursos financeiros para compra de equipamentos científicos da estação e, mais grave, para o financiamento de projetos científicos e bolsas de estudos"
E isso pode acontecer justamente no ano em que o Brasil pretende inaugurar sua nova base na Antártica (2019), que custou US$ 100 milhões de dólares.

Incêndio na Base Ferraz em 2012

Este foi um ano trágico para o Brasil na Antártica. Três graves acidentes aconteceram. O incêndio que destruiu a antiga base, o afundamento de uma balsa da MB que levava óleo dos navios polares até a praia, e o naufrágio do Mar Sem Fim. De lá para cá o Proantar sofreu as consequências de não ter uma base fixa.
O Ary Rangel
 Nos verões, as poucas pesquisas eram feitas a bordo dos navios polares brasileiros, o Comandante Maximiliano, e o Ary Rongel. Enquanto isso, a nova base era construída. Agora, quando esta prestes a ser inaugurada, a falta de verbas ameaça a presença brasileira no Continente Branco.
O Comandante Maximiliano

Tratado Antártico

O país aderiu ao tratado em 1975. Em 1982 foi criado o PROANTAR, o Programa Antártico Brasileiro, já que o tratado exige que cada país membro do ICAR – Comitê Científico para Pesquisas Antárticas- realize “substancial atividade de pesquisa científica” para manter seu direito ao voto. Segundo o o glaciologista Jefferson Cardia Simões, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e vice-presidente do Comitê Científico para Pesquisas Antárticas,
"Não basta a presença militar, tem de haver ciência"

Último edital do PROANTAR

Herton Escobar explica que “o último edital federal dedicado à pesquisa antártica foi lançado em 2013, no valor de R$ 14 milhões, para financiar 19 projetos por três anos – dinheiro liberado com três anos de atraso e já esgotado, segundo os cientistas. Um dos Institutos Nacionais de Ciência Tecnologia (INCTs) dedicados à Antártida encerrou suas atividades neste mês e o outro, chamado INCT da Criosfera, foi renovado até 2022, mas só tem recursos para mais uma operação antártica”

Apelo dos cientistas

"Rogamos a vossas excelências que sejam estudadas ações emergenciais para darmos continuidade às pesquisas científicas na Antártida e não tenhamos a situação insólita de uma casa antártica sem cientistas"
Assim termina a carta, obtida com exclusividade pelo Estado.

‘A ciência na pode pagar a conta’

Herton escreveu: “Casa vazia não faz ciência”, resume Simões. O resultado, diz, pode ser uma estação científica com alma do Mané Garrincha, em Brasília: um estádio de futebol sem futebol, bonito por fora e vazio por dentro. Segundo ele, “a ciência não pode pagar a conta” de uma estação com finalidades mais geopolíticas do que científicas.

O desabafo do cientista

Pelas palavras de Cardia,  “a ciência não pode pagar a conta de uma estação com finalidades mais geopolíticas do que científicas”, demonstra que a falta de verbas não é novidade. Mas, pará-las totalmente seria uma decisão mesquinha e mixa do governo brasileiro. Não podemos permitir que isso aconteça. Não só a presença brasileira é fundamental, como as pesquisas que, a despeito da eterna falta de verbas, sempre foi das mais respeitadas entre os países ditos ‘em desenvolvimento’.

O Mar Sem Fim espera que vença o bom senso. O Brasil não pode ficar fora da Antártica!

Fonte: Mar Sem Fim

 

quarta-feira, 28 de março de 2018

Movimento de Megafauna Marinha é destaque no periódico PNAS

Trabalho analisando a movimentação da megafauna marinha em
ambientes costeiros e oceânicos foi publicado no periódico
Proceedings of the National Academy of Sciences of the United
States of America (PNAS)(http://www.pnas.org/content/115/12/2843)
e tem como co-autora a Dra.Mônica M.C. Muelbert do Programa de 
Pós Graduação em Oceanografia Biológica(PGOB)da Universidade 
Federal do Rio Grande(FURG).

O manuscrito que fez a matéria de capa desta edição, apresenta 
informações sobre várias espécies de predadores marinhos, 
incluindo elefantes-marinhos do sul monitorados nos projetos
GOAL e MEOP do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) com 
apoio do CNPq/MCTI,CAPES/MEC e FURG.

A iniciativa integra dados coletados por varias instituições 
solidificando uma nova maneira de se fazer e integrar ciência
em redes e compartilhando dados. Os trabalhos na Antártica tem
se estendido ao longo dos últimos dez anos através da 
colaboração entre o IO/FURG e o IMAS/UTAS (Austrália) em várias
áreas das Ciências do Mar.

Uma animação do movimento dos organismos pode ser vista na matéria
do periódico EurekaAlert:
https://www.eurekalert.org/pub_releases/2018-02/kauo-mae022218.php
 
Fonte: Mensagem enviada pelo IO/FURG em  26/03/2018 

Cepene, boa ação no litoral está ameaçado, assine petição

Cepene, uma das poucas boas ações no litoral está ameaçado: não permita que isso ocorra. Você pode fazer a diferença!

“O Centro de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste – Cepene é um dos Centros Especializados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, vinculado à Diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade.”
“Ele conta com uma Base Avançada em Caravelas, Bahia. Ela é focada em atividades voltadas à conservação de manguezais do Nordeste brasileiro.”

Cepene e o Projeto Radar

“O  Cepene iniciou a implantação do projeto Radar. O objetivo é monitorar, por meio de um sistema de radares, a pesca artesanal na plataforma continental  da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais.”

Estimativa de pesca

“O monitoramento fornecerá dados sobre áreas de pesca, sazonalidade das pescarias e número de barcos operando em determinada área. Essas informações são imprescindíveis para uma estimativa real do esforço da pesca.”

Ameaças ao Cepene, um dos bons exemplos da costa brasileira

“O  Cepene/ICMBio está ameaçado de perder a área que ocupa.”

Recifes interditados para estudos em Tamadaré, Pernambuco, agora estão sob severa ameaça.  

 

“Desde 1923, a vocação onde hoje funciona o Cepene é voltada para educação, pesquisas e formação profissional. O imóvel está sob domínio da Marinha do Brasil. Ao longo dos anos a Marinha cedeu seu uso (primeiro à SUDEPE, IBAMA, e atualmente Cepene/ICMBio em parceria com a UFPE). Agora, a Marinha do Brasil não quer mais renovar a cessão da área e determinou sua desocupação.

O trabalho com os recifes de Tamandaré, PE

Esses recifes são tão importantes que foram estudados por Jacques Laborel, colaborador de Cousteau. Hoje o trabalho é comandado por Mauro Maida, da Universidade Federal de Pernamubuco. Em razão dos maus tratos aos recifes da região, o projeto propôs fechar totalmente uma área coralínea de 400 hectares defronte à praia. A ideia é um experimento para o estudo da capacidade de recuperacão dos recifes da Costa dos Corais. Desde 1999 naquele trecho só são permitidas atividades licenciadas de pesquisa. É um trabalho digno, bem feito, que impressionou o Mar Sem Fim. Um dos poucos bons exemplos da costa brasileira.

Recifes de Tamandaré, trabalho exemplar que merece continuar

Ao longo dos 20 anos, o experimento é mantido por parceiras público privadas. Atualmente ela envolve a Universidade Federal de Pernambuco, a prefeitura da Tamandaré, o ICMBio, a Fundação S.O.S Mata Atlântica, a Fundação Toyota do Brasil.

Últimas notícias sobre a desocupação da área do Cepene

Conversamos  com o chefe da Cepene, Leonardo Messias, que informou: “Houve tratativas entre os ministérios envolvidos, por meio dos dois ministros titulares das pastas da Defesa e do Meio Ambiente, e do presidente do ICMBio junto com o comandante da Marinha do Brasil. A princípio, o assunto estava encaminhado para renovação da cessão.”

As tratativas entre Cepene e Marinha do Brasil

“No dia 08 de março, o Diretor de Biodiversidade do ICMBio e o coordenador do Cepene se reuniram com o Almirante Kerr, um dos comandantes da Marinha, para fechar o acordo tratado. Na reunião, o comandante informou que a Marinha do Brasil continuava com a posição anterior de não renovar a cessão de uso, a não ser que houvesse alguma vantagem. Chegou a mencionar que a área é muito valiosa para um empreendimento tipo resort, com dezenas de apartamentos e que havia uma fila de sargentos em Natal esperando por uma casa funcional para morar nas residências do Cepene (15 casas). O comandante também disse que uma permuta por área de igual valor era interessante para a Marinha. No dia 04 de abril está prevista pela Marinha a desocupação total da área.”

Não permita que o Cepene acabe, assine a petição!

Se acontecer o que quer a MB, serão perdidos 20 anos de trabalho  consistente. O Mar Sem Fim pede seu apoio. Assine a petição e contribua para que o maltratado litoral brasileiro mantenha as poucas boas ações que hoje acontecem.

Fontes: Mar Sem Fim via  http://www.icmbio.gov.br/cepene/; https://uc.socioambiental.org/es/noticia/cepene-monitora-pesca-na-plataforma-continental; https://secure.avaaz.org/po/petition/Ministro_da_Defesa_Raul_Jungmann_Cessao_Permanente_para_o_CEPENE_TamandarePE/.


terça-feira, 27 de março de 2018

Fossa das Marianas, 11 mil metros: encontrada vida exuberante nas profundezas

Fossa das Marianas, apesar da vida marinha, local foi proposto para ser depósito de resíduos nucleares

Ela é o local mais profundo dos Oceanos. Situa- se  no Pacífico, a leste das Ilhas Marianas, na fronteira entre as placas tectônicas do Pacífico e das Filipinas. Nossa ignorância sobre os oceanos é tão abissal quanto ela. No passado recente, a Fossa das Marianas foi proposta para ser local de depósito de resíduos nucleares! E esta não foi a única vez que o oceano foi considerado como  depósito de lixo radioativo. O mesmo absurdo aconteceu no Ano Geofísico internacional 57- 58.

A descoberta da Fossa das Marianas

A  descoberta foi produto da viagem do Challenger, exploração britânica de volta ao mundo entre 1872 e 1876, percorrendo 127 mil quilômetros. A influência da exploração do Challenger foi tamanha que o estudo do mar, a partir daí, foi encarado  como uma disciplina legítima a que foi dada o nome de Oceanografia.

A formação da Fossa das Marianas

De acordo com a National Geographic, “as zonas de subdução ocorrem onde uma parte do fundo do mar – neste caso, a placa do Pacífico – mergulha abaixo de outra, a placa das Filipinas. Embora as forças tectônicas acabem por deformar a placa do Pacífico para que ela faça um mergulho quase vertical no interior da Terra, no fundo do mar a placa mergulha em um ângulo menos abrupto.” Uma das razões pelas quais a Fossa das Mariana seja tão profunda,  é porque o Pacífico Ocidental abriga alguns dos mais antigos fundos marinhos do mundo – cerca de 180 milhões de anos. Outro fator, é que a Fossa das Marianas está longe da foz de qualquer rio que, normalmente, despeja lama no mar.

Fundo submarino formado por lavas

fundo dos oceanos é formado por lava em cumes. Quando é fresca, a lava é comparativamente quente e flutuante, subindo alto no manto de água subjacente. Mas, à medida que envelhece e afasta-se da sua fonte, a lava esfria lentamente e torna-se cada vez mais densa, fazendo com que  se assente sempre mais baixo. Esse é o caso da Fossa das Marianas.

Os primeiros a chegarem ao fundo da Fossa das Marianas

Aconteceu muito recentemente, em 1960, quando o batiscafo Trieste, da marinha dos Estados Unidos, tripulado pelo tente Don Walsh e o cientista Jacques Piccard participaram da expedição.
O batiscafo Trieste, o primeiro a descer. (Foto:http://zinkabaut.com/)
 A descida e subida demorou 9 horas. Os dois exploradores ficaram por 20 minutos no ponto mais profundo dos oceanos. A profundidade é tal que dentro caberia o Everest e ainda sobraria espaço.

Segundo o escritor  Bill Bryson, em seu livro Breve História de Quase Tudo (Ed. Cia das Letras), a aventura nunca mais foi repetida em parte porque a Marinha dos Estados Unidos se negou a financiar novas missões  porque “a nação estava prestes a se voltar para as viagens espaciais e a missão de enviar um homem à Lua. Isso fez com que as investigações do mar profundo parecessem sem importância e um tanto antiquadas. Mas o fator decisivo foi a escassez de resultados do mergulho do Trieste”.

Escassez de resultados do Trieste: entenda por quê

A pressão nestas profundidades, mil vezes maior que a nível do mar, é tão violenta que as janelas do Trieste, uma esfera de aço de 2 metros de diâmetro, eram do tamanho de moedas para não explodirem.

1985, ano de grandes descobertas

“Em 1985 o oceanógrafo Robert Ballard, que tornou-se famoso pela descoberta do Titanic, utilizou um ROV (Remotely operated underwater vehicle) e seu minisubmarino Alvin para fazer mais uma descoberta histórica em conjunto com o pesquisador Dedley Foster. Eles comprovaram que, ao contrário do que se supunha, abaixo da camada batipelágico situada entre 1000 e 4000 metros, volta a existir vida.”

Vida marinha a mais de 10 mil metros de profundidade

“Pelas imagens de Ballard e Foster, comprovou-se que graças aos componentes químicos e ao calor exalado pelos vulcões por delicadas “chaminés” encontrados nas Fossas Marianas há vida exuberante nas profundezas.  Ali há um incalculável número de espécimes vivos altamente desenvolvidos e adaptados à colossal pressão encontrada. As filmagens do ROV de Ballard e Foster mudaram para sempre parte da história da evolução da vida no planeta. E abriram um campo imenso para novas pesquisas.”

Março de 2012: o terceiro ser humano desce na Fossa das Marianas

Neste ano o  cineasta James Cameron foi o terceiro ser humano a conseguir a façanha. Ele desceu no submersível Deepesea Challenger até a parte mais profunda da Fossa das Marianas.

 Assista o vídeo do mergulho de James Cameron em:

Poluição na Fossa das Marianas

Apesar da dificuldade de acesso, estudos  mostram que a poluição provocada pelo ser humano já chegou até no fundo da Fossa das Marianas.

Uso da Fossa das Marianas como depósito de lixo radioativo

Matéria do www.sciencedirect.com/ informa que “os japoneses fizeram uma proposta para despejar resíduos em uma planície abissal a meio caminho entre Tóquio e as Marianas do Norte. A possibilidade foi discutida desde meados da década de 1970. A implementação da proposta foi adiada por causa dos protestos de Ilhéus do Pacífico. No início de 1985, o primeiro-ministro Nakasone disse  que a proposta não estava mais em consideração.”

Países europeus liderados pela Inglaterra despejaram resíduos nucleares nos oceanos

O mesmo texto diz que “quatro países europeus – liderados em volume pelo Reino Unido – despejaram resíduos nucleares de baixo nível anualmente em um local no Atlântico Nordeste até Fevereiro de 1983. Nesta ano uma proposta de moratória dos membros da 1972 London Dumping Convention  interrompeu as operações.”

Fontes:  Mar Sem Fim via https://pt.wikipedia.org/wiki/Fossa_das_Marianas; https://news.nationalgeographic.com/news/2012/04/120405-james-cameron-mariana-trench-deepsea-challenger-oceans-science/;http://www.bbc.com/portuguese/ciencia/2009/06/090603_submarinoroboml.shtml; https://www.sciencedirect.com/sdfe/pdf/download/eid/1-s2.0-0308597X8890036X/first-page-pdf. 



 

sexta-feira, 23 de março de 2018

Oceanografia: a mais ‘recente’ disciplina científica explica porquê conhecemos tão pouco

Os oceanos são pouco estudados, isso já se sabe. A primeira investigação  organizada dos oceanos só aconteceu em 1872, quando a Royal Society, o Museu Britânico, e o governo britânico, organizaram a expedição do HMS Challenger. Nascia a oceanografia.

O Challenger (ilustração: www.wiliamreesecompany.com)
Ela   durou 3 anos e meio, percorrendo todos os oceanos. Na volta trouxe mais de 4.700 novas espécies de organismos marinhos, e reuniu informações ‘suficientes para criar um relatório de 50 volumes, que levou dezenove anos para ser completado. A expedição  legou ao mundo uma nova disciplina científica: a oceanografia’ (Fonte: Breve História de Quase Tudo, de Bill Bryson, ed. Cia das Letras).
Mapa da viagem do Challenger (desenho: www.19centuryscience.org)

“A viagem do  Challenger mudou o conhecimento dos oceanos. Ele deu a volta ao mundo, entre 1872 e 1876, percorrendo 127 mil quilômetros. A saga mudou o conhecimento dos oceanos. Sua influência foi tal que o estudo do mar foi encarado a partir daí como uma disciplina legítima a que foi dada o nome de Oceanografia. Liderada por Wyville Thomson, durante a viagem descobriram-se mais de 4700 espécies. E, mais importante, ficou-se sabendo que havia vida marinha abundante nas profundezas. A maior proeza da viagem foi a descoberta de que a vida, que pensava restringir-se a terra e às águas iluminadas pelo Sol, estava à espera de ser encontrada, para lá das profundidades ou do frio.”

Primeiros equipamentos modernos de mergulho

Não bastasse ter sido ‘a última das disciplinas’, a oceanografia só começou pra valer depois da invenção do aqualung, em 1943, obra de Jacques Cousteau. Foi então que o ser humano teve condições de iniciar a exploração efetiva do maior ecossistema da Terra. Mesmo assim, só uma pequena fração pode ser vista com o aqualung. Foi preciso esperar muito tempo até que a tecnologia passou a fazer parte dos esforços para desvendar os mistérios dos oceanos. Hoje, além de satélites, há os robôs submarinos que descem a profundidades abissais. E até drones são usados na exploração e controle da pesca. Esse atraso gerou problemas inacreditáveis, entre os quais…

Ano geofífico Internacional 1957-8, objetivo: estudar o uso das profundezas para despejos radiativos

Parece piada, mas não é. É apenas mais uma prova da abissal ignorância que temos em relação aos oceanos. A prova cabal é o principal objetivo do ano geofísico 57-58. A pesquisa aconteceu porque, desde 1946, os EUA transportavam tambores de 208 litros de lixo radiativo para as ilhas Farallon, cerca de 50 Km ao largo da costa da Califórnia, onde eram jogados ao mar. De acordo com Bill Bryson
"tudo era feito no maior desleixo. Os tambores eram do tipo que se vê enferrujando atrás de postos de gasolina. Quando um deles não afundava, o que era comum, atiradores da marinha crivavam-no de balas para a água entrar e, lógico, plutônio, urânio e estrôncio vazarem."

Até a década de 1990 os oceanos eram depósitos radiativos

A atividade só foi interrompida em 1990 quando os EUA já tinham despejado centenas de milhares de tambores em cerca de cinquenta locais oceânicos– quase 50 mil nas ilhas Farallon. Mas os EUA não estavam sozinhos. Rússia, China, Japão, Nova Zelândia, e quase todos os países ricos da Europa seguiram esse exemplo.
Mapa onde o lixo radiativo, de ‘baixo nível, foi despejado no mar (fonte: iaea.org)

Do século 19, para o 21, avançamos pouco em pesquisas

Mas na pesca, na poluição, na brutal concentração da população mundial que vive no litoral, 60% dos 7.4 bilhões de seres humanos da Terra moram nestas regiões, os avanços foram enormes. Em recente entrevista, o pesquisador Enric Sala, diretor executivo da Pristine Seas, bota a boca no trombone denunciando a pesca predatória. Ele mostra que navios pesqueiros chineses não respeitam sequer santuários marinhos, como as ilhas Galápagos, por exemplo. E reitera que isso é cada vez mais comum.
Foi ainda no século 21, graças aos esforços da exploração de petróleo em água profundas, que novos equipamentos passaram a servir também à oceanografia. A França, por exemplo, se inspirou na estação espacial internacional para construir  um navio laboratório que será usado na exploração e estudo dos oceanos.

Mesmo assim até hoje conhecemos menos de 5% dos oceanos profundos

Já a mundialmente reconhecida Sylvia Earle, em seu livro A Terra é Azul, diz que conhecemos menos de 5% dos oceanos profundos. Com ela aprendemos que, desde os anos 50, metade dos recifes de coral em águas rasas desapareceu, enquanto os corais de águas profundas são devastados por novas tecnologias de arrastão, cujo objetivo é capturar peixes com décadas ou séculos de idade. Essa prática fez com que várias espécies tivessem sua população reduzida em 90%. Para algumas, como o atum-rabilho, o bacalhau do Atlântico e certos tubarões, a taxa chega a 95%. E sua pesca ainda é permitida

Fonte: Mar Sem Fim, João Lara Mesquita

 

quarta-feira, 21 de março de 2018

Edital PPGOB 1/2018 Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD)


O Programa de Pós-Graduação em Oceanografia Biológica - FURG divulga o edital 01/2018 sobre o processo de seleção e admissão de doutor para o Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD) MEC/CAPES.

Inicialmente será disponibilizada 1 (uma) cota para ingresso imediato com duração estabelecida no item 9 do edital. Conforme disponibilidade e a critério do programa, novas vagas poderão ser disponibilizadas dentro da vigência do mesmo.  

As datas importantes são:

Período das inscrições --> 12/03 a 30/03/2018

Homologação das inscrições --> 04/04/2018

Resultado final --> 13/04/2018

Entrega da documentação necessária para implementação da bolsa --> 16/04/2018

Maiores informações no link http://www.ocbio.furg.br/index.php/pt/2016-04-27-14-02-21http://www.ocbio.furg.br/index.php/pt/2016-04-27-14-02-21

Fonte: Secretaria do IO/FURG 

terça-feira, 20 de março de 2018

Como o deserto do Saara participa do regime de chuvas da Amazônia, a 5 mil km de distância

Nuvens de poeira e de vapor d'água sobre o deserto do Saara | Foto: Nasa Earth Observatory
Pouco mais de 5,3 mil km e o Oceano Atlântico separam as cidades de Manaus (AM) e Nouakchott, a capital da Mauritânia, no deserto do Saara. Apesar da distância, o deserto do norte da África e a floresta amazônica têm uma relação mais estreita do que senso comum nos leva a acreditar.
Tão inesperado quanto esta ligação é o fato de ser o deserto que beneficia a mata, e não o contrário - sendo responsável pela maior parte das chuvas torrenciais que caem sobre a região, mantendo sua exuberância e biodiversidade. Além de enviar toneladas de nutrientes para sua vegetação, como o fósforo.
Os "núcleos de condensação", a parte da nuvem em que o vapor de água se condensa, são formados, entre outros elementos, por partículas em suspensão no ar - poeira, por exemplo. No caso da floresta amazônica, uma parcela desses aerossóis é proveniente do Saara.
"Este fenômeno de transporte ocorre principalmente na parte norte da Amazônia, mas já foi registrado também na área central da região, como, por exemplo, ao sul de Manaus", explica o físico Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP).
Ele é um dos integrantes de uma equipe de pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e da Alemanha que vem desenvolvendo, há uma década, um trabalho que levou à descoberta de que a poeira do deserto ajuda a formar nuvens sobre a Amazônia Central, onde se localiza Manaus, que são responsáveis por cerca de 80% das chuvas que caem na região.
 Representação artística da camada de poeira na atmosfera da Terra | Imagem: Nasa Goddard's Visualization Studio 

Mas como o deserto cria precipitações a milhares de quilômetros de distância?
Segundo Artaxo, o fenômeno ocorre todos os anos. Ele começa com as tempestades no Saara, que levantam toneladas de poeira e areia. Esse material é transportado de lá, por cima do Oceano Atlântico, até a floresta amazônica, numa distância mínima de pelo menos 5 mil km - entre a parte mais ocidental do deserto e Manaus. "Isso ocorre de fevereiro a maio, pois, nesta época, a chamada Zona de Convergência Intertropical (ITCZ, na sigla em inglês), fica ao sul de Manaus, favorecendo o transporte de massas de ar do hemisfério Norte para a Amazônia Central", explica Artaxo.
Ele diz que, para que haja chuva, são necessários três ingredientes básicos: vapor de água, condições termodinâmicas ideais e as partículas que servirão de meio para que o vapor possa se condensar. "Os grãos de poeira do Saara, que também podem ser chamados de aerossóis, operam como uma destas partículas em que o vapor de água se condensa", explica Artaxo, mencionando a hipótese mais aceita para a explicação do fenômeno.
"Ou seja, eles atuam como núcleos de condensação de gelo, fazendo com que gotas líquidas, ao atingirem altas altitudes e temperaturas menores que 10ºC negativos, congelem e formem gotas de gelo, que são eficientes no processo de formação de chuva na Amazônia."
Artaxo conta que as medidas da concentração de partículas do Saara foram feitas na Amazon Tall Tower Observatory (ATTO), ou Torre Alta de Observação da Amazônia, com 325 metros altura, o equivalente a um prédio de 80 andares. Erguida na reserva ambiental do Uatumã, no município de São Sebastião do Uatumã, a cerca de 180 km de Manaus, é a maior torre de monitoramento ambiental e atmosférico do mundo. O objetivo dela é coletar dados sobre a interação entre a vegetação e atmosfera.
Teste químico
Para testar sua hipótese, os pesquisadores realizaram experimentos em laboratório. Parte das partículas coletadas na torre ATTO foi injetada em uma câmara, na qual é possível simular a formação das nuvens convectivas - nuvens com grandes altitudes verticais, que podem chegar a 15 km da base ao topo, responsáveis chuvas torrenciais e rápidas.
 Foto de satélite mostra a onda de poeira se deslocando a partir da costa do norte da África | Foto: Nasa 
Segundo Artaxo, essa câmara reproduz as condições da atmosfera a até 18 km acima do solo, onde prevalecem as baixas pressões e temperaturas - de até 70ºC negativos. Na natureza, é num ambiente parecido que se formam as nuvens convectivas.
A certeza de que a poeira encontrada no local vem do Saara e não de um terreno próximo à torre é dada pela sua composição química, mais especificamente, pela presença e proporção de alguns elementos, como alumínio, manganês, ferro e silício. De acordo com Artaxo, a quantidade desses elementos nas partículas coletadas na Amazônia é igual a encontrada na poeira do Saara. "Além disso, há a correlação entre a presença desses aerossóis e o movimento das massas de ar", diz. "Isso prova que eles vieram mesmo do deserto africano."
Os cientistas ainda não têm 100% de certeza sobre o mecanismo pelo qual os aerossóis do Saara ajudam a formar as nuvens e, por consequência, as chuvas que caem torrencialmente na região. A hipótese mais provável é que o ferro, presente na poeira do deserto, pode funcionar como um suporte, sobre o qual o vapor d'água se condensa, formando núcleos de gelo, que depois se transformam em gotas de chuva.
Fertilizante natural
Não são apenas simples grãos de poeira, entretanto, que o Saara manda para a Amazônia.
Em 2015, a Nasa, a agência espacial americana, divulgou um estudo segundo o qual todos os anos o deserto envia, junto com o pó, 22 mil toneladas de fósforo, nutriente encontrado em fertilizantes comerciais e essencial para o crescimento da floresta. É quase a mesma quantidade que a mata produz, com a decomposição das árvores caídas e, em seguida, perde com as chuvas e inundações.
Segundo o levantamento da Nasa, todos os anos 182 milhões de toneladas de poeira - mais ou menos o equivalente a 690 mil de caminhões de areia - saem do Saara para as Américas do Sul e Central. Desse total, cerca de 28 milhões de toneladas - ou 105 mil caminhões - caem na Bacia Amazônica, e, junto com elas, o fósforo.
 Mais de 5 mil km separam a borda do deserto da floresta amazônica | Imagem: Reprodução/Google Maps 
A poeira mais rica em fósforo vem da depressão de Bodélé, no Chade, que é um antigo leito de lago, hoje seco.
Devido a sua geografia, o local é atingido por constantes e gigantescas tempestades, que levantam a areia, que depois é transportado para o outro lado do Oceano Atlântico. A descoberta é parte de uma pesquisa maior para compreender o papel da poeira e dos aerossóis no meio ambiente, no clima local e global.
Os pesquisadores da equipe da qual Artaxo faz parte estão agora empenhados em descobrir se o aquecimento global pode interferir no fenômeno do transporte de poeira do Saara para a Amazônia e, consequentemente, na formação e no volume de chuva na região da floresta brasileira.
"Um dos efeitos do aquecimento global é mudar a dinâmica da atmosfera, e o transporte em larga escala", diz. "Isso pode, sim, afetar o transporte de partículas do Saara para a Amazônia, pois toda a dinâmica atmosférica pode ser alterada". Mas são necessários mais estudos para saber como isso ocorrerá.

Fonte: BBC Brasil





Título novo de periódico assinado pelo SiB para uso dos Oceanólogos

Foi adquirida a assinatura do periódico "Marine & Freshwater Research", para o ano de 2018. Esse título tinha bastante procura na Biblioteca Setorial de Pós-Graduação em Oceanografia e sua assinatura era solicitado há alguns anos. Assim, informamos que já recebemos o primeiro  número relativo ao ano de 2018 - v.69, n. 2, 2018 (o número 1 do volume 69 pertence ao ano de 2017).
Capa abaixo

Fonte: SiBOceano/FURG

sexta-feira, 16 de março de 2018

10 perguntas e respostas para facilitar a rotina acadêmica

Entender o universo científico não é tarefa fácil, até mesmo para quem está inserido nesse mundo há algum tempo. São muitas siglas, nomenclaturas e organizações envolvidas. A boa notícia é que existem investimentos para facilitar o dia a dia, como o Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
 O fato é que quanto mais buscamos informações, mais questionamentos aparecem. Posso submeter minhas produções científicas ao Portal de Periódicos? O que é o Currículo Lattes? Para que serve o código ISSN? Chegou a hora de esclarecer essas e outras temáticas que geram dúvidas na comunidade acadêmica:
1. O que é o Portal de Periódicos? Ele produz conteúdo?
O Portal de Periódicos da CAPES é uma biblioteca virtual e não uma editora. Isso significa que não produz conteúdo científico, não regula e não desenvolve revistas científicas.
Para dúvidas sobre como criar uma revista científica, os usuários devem contatar organizações como a Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC). A CAPES não fornece orientações sobre esse assunto, considerando que não é uma agência reguladora ou fiscalizadora de periódicos.
Casos de periódicos predatórios também devem ser relatados às entidades competentes, como a ABEC, a Open Access Scholarly Publishers Association (OASPA), a Society of Scholarly Publishing (SSP), a European Association of Science Editors (EASE), o Council of Science Editors (CSE) e a National Association of Science Writers (NASW).
2. Existe diferença entre o uso do Portal de Periódicos e das bases de dados?
Por ser uma biblioteca, o Portal de Periódicos reúne coleções de diversos editores nacionais e internacionais. Isso significa que são oferecidos recursos de pesquisa para os usuários, mas os links encontrados nos resultados sempre vão direcionar o pesquisador para a página de um editor.
As formas de busca do Portal nem sempre serão semelhantes às ferramentas oferecidas pelos editores. Em caso de dúvidas, o ideal é procurar o bibliotecário da sua instituição. Além disso, a CAPES oferece gratuitamente treinamentos online para uso dos recursos disponíveis no Portal.
3. Existe diferença entre o Acesso CAFe e o Meu Espaço?
São dois serviços distintos e independentes um do outro. O Acesso CAFe é um serviço de responsabilidade da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) que permite o acesso remoto ao acervo do Portal de Periódicos. Por meio desse recurso, o usuário pode acessar os conteúdos assinados pela CAPES de qualquer lugar e a qualquer hora, basta estar conectado à internet. Saiba mais sobre a CAFe
Por outro lado, o “Meu espaço” é uma área administrada pela equipe do Portal de Periódicos e oferece vários recursos, que permitem ao pesquisador montar seus próprios conjuntos de busca, salvar e criar alertas de pesquisas e guardar seus conteúdos preferidos em um espaço virtual permanente. O cadastro é opcional e sem vínculo ao “Acesso CAFe", tendo login e senha diferentes para cada serviço.
4. O que são gerenciadores de referências?
Ferramentas como EndNote, Mendeley e outras são softwares para acadêmicos usarem na gravação e na utilização de citações bibliográficas. Esses recursos não são gerenciados pela CAPES. De toda forma, ajudam o pesquisador em tarefas como: reunir referências bibliográficas automaticamente a partir de bases de dados; formatar manuscritos e citações instantaneamente de acordo com as normas vigentes; gerar bibliografias; criar e organizar um banco de dados de pesquisa pessoal de referências, imagens e PDFs; entre outras funções.
5. O que é o Currículo Lattes? Ele é administrado pela CAPES?
O Currículo Lattes é uma ferramenta do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e não tem vínculo com a CAPES. Segundo a agência, o recurso “se tornou um padrão nacional no registro da vida pregressa e atual dos estudantes e pesquisadores do país”. Ele faz parte da Plataforma Lattes, que integra bases de dados de currículos, de grupos de pesquisa e de instituições em um único sistema de informações. Saiba mais
6. Qual a diferença entre o Banco de Teses e Dissertações do IBICT e o Catálogo de Teses da CAPES?
Também são dois serviços distintos. A Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) integra os sistemas de informação de teses e dissertações existentes no país e disponibiliza para os usuários um catálogo nacional em texto integral. O IBICT coleta e disponibiliza os metadados (título, autor, resumo, palavra-chave etc.) e direciona o usuário ao documento original, que permanece na base da instituição de defesa.
Enquanto isso, o Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES é um sistema de busca bibliográfica que reúne e disponibiliza a versão digital de teses e dissertações produzidas pelos programas de doutorado e mestrado reconhecidos. O conteúdo em texto completo contempla documentos a partir de 2010, enquanto há registro somente de metadados de anos anteriores. Tanto os metadados quanto os arquivos completos são informados diretamente à CAPES pelos programas de pós-graduação, que se responsabilizam pela veracidade dos dados.
7. O que são índices bibliométricos? Eles são definidos pelo Portal de Periódicos?
Os índices bibliométricos são indicadores de produção e disseminação do conhecimento, bem como acompanhamento do desenvolvimento de áreas do conhecimento e padrões de autoria, publicação e uso dos resultados de investigação de produção científica. A partir desses índices, são realizadas qualificações que levam em conta uma série de aspectos.
O Portal de Periódicos não define e não gerencia nenhum tipo de índice bibliométrico, apenas disponibiliza acesso a alguns deles aos usuários, como é o caso do Fator de Impacto, provido pelo Journal Citation Reports (JCR), da Clarivate Analytics. Outros exemplos de métricas em vigor são o Índice H, a avaliação Qualis e o CiteScore, da editora Elsevier.
8. A CAPES é responsável pela revalidação de diplomas?
Não. A competência pela revalidação de diplomas de pós-graduação expedidos por instituições de ensino superior estrangeiras é das universidades brasileiras que ministram cursos de pós-graduação reconhecidos na mesma área de conhecimento. O processo não passa em nenhum momento pelo Ministério da Educação (MEC) ou pela CAPES. A única responsabilidade da CAPES nessa atividade é de estabelecer orientações gerais e procedimentos relativos a reconhecimento de diplomas de pós-graduação stricto sensu no Brasil.
Para facilitar o entendimento e o acesso a dados sobre o assunto, o MEC disponibiliza o Portal Carolina Bori, que reúne informações para orientar e coordenar o processo de revalidação/reconhecimento de diplomas estrangeiros.
9. Como é feita a concessão de ISSN para periódicos? E de ISBN para livros? Quem faz é a CAPES?
O ISSN (International Standard Serial Number) é o código aceito internacionalmente para individualizar uma publicação seriada. O número é único e exclusivo do título ao qual foi atribuído. Por ser um código único, o ISSN identifica o título de uma publicação seriada durante todo o seu ciclo de existência, seja qual for o idioma ou suporte utilizado (impresso, online, CD e demais mídias). Sua concessão é feita pelo IBICT, que desenvolve desde 1975 as funções de Centro Nacional da Rede ISSN. A CAPES não tem vínculo com a atividade.
Na mesma linha, o ISBN (International Standard Book Number) é um sistema internacional padronizado que identifica numericamente os livros segundo título, autor, país e editora, individualizando-os inclusive por edição. Utilizado também para identificar software, seu sistema numérico é convertido em código de barras, o que facilita a circulação e a comercialização das obras.
O sistema ISBN é controlado pela Agência Internacional do ISBN, que orienta, coordena e delega poderes às agências nacionais designadas em cada país. No Brasil, a Biblioteca Nacional representa a Agência Brasileira desde 1978, com a função de atribuir o número de identificação aos livros editados no país. O serviço, assim como o ISSN, não conta com participação da CAPES.
10. Como fazer parte do Portal de Periódicos?
Possuem acesso livre e gratuito ao conteúdo do Portal de Periódicos pessoas vinculadas às instituições participantes do programa. A definição dos critérios de seleção está em consonância com os objetivos da CAPES de democratizar o acesso à informação científica, fortalecer os programas de pós-graduação no país e incentivar os investimentos em excelência acadêmica nas instituições de ensino e pesquisa no Brasil.
Professores, pesquisadores, alunos e funcionários não vinculados que desejam acessar o Portal de Periódicos devem procurar a biblioteca da instituição participante mais próxima. Além disso, o Portal coloca à disposição de todos os brasileiros um amplo conteúdo de acesso livre, que inclui bases de dados nacionais e internacionais selecionadas. Saiba mais
A reprodução parcial ou total de notícias é autorizada desde que seja citada a fonte: "Portal de Periódicos da CAPES"

Fonte:  Portal de Periódicos da CAPES, Boletim Eletrônico Nº 37 de 15/03/2018




quarta-feira, 14 de março de 2018

Exploração marinha, difícil e cara, ganha novo aliado: a tecnologia dos drones

Os drones, ou veículos de superfície não tripulados, são equipados com 42 sensores de pesquisa meteorológica e oceanográfica. Eles são guiados pelo GPS e controlados por leme remoto. Como não há tripulação, podem ir a ambientes difíceis  para coletar dados e ajudar os cientistas a obter uma visão melhor do estado da saúde oceânica e do clima em mudança. Começa uma nova era na exploração marinha.
 Nova era da exploração marinha. Um dos tipos de drones da empresa saildrone (Foto: saildrone)

As brutais dificuldades na exploração submarina

Um dos motivos pelos quais os cientistas conhecem menos de 5% dos oceanos profundos, é sua enorme dificuldade de exploração. É um problema logístico, e caríssimo. Os poucos submarinos remotos precisam ser levados em enormes navios. O custo operacional é proibitivo. O próprio custo dos robôs já é muito alto. Ele deve ser construído com tecnologia de ponta, usando materiais exóticos como fibra de carbono, e alta tecnologia em equipamentos embarcados. Imagine a força da pressão abaixo de 4 mil metros, profundidade média dos oceanos que têm com picos que chegam até 11 mil metros! E acredite, até nestes locais a poluição humana já chegou.
Estes equipamentos são usados com muito mais frequência na exploração de petróleo, por exemplo. É que a venda do terrível combustível fóssil  paga todas as contas e ainda sobram bilhões. O mesmo não acontece na oceanografia. Por isso, hoje os drones são essenciais, assim como outras tecnologias avançadas. Sem elas não avançaríamos.

Bóias estacionadas para pesquisar

Matéria do site www.inc.com diz que “os dados oceânicos são valiosos, mas, durante décadas, a única maneira de estudar as águas hostis do mundo era implantar uma bóia estacionária, lançar um satélite no espaço ou enviar um navio de pesquisa  que funcione a um custo de centenas de milhares de dólares por dia para operar. A Saildrone oferece aos pesquisadores governamentais, e empresas privadas, dados mais facilmente acessíveis sobre populações de peixes e vida selvagem, saúde ambiental, temperatura do oceano, clima e mudanças climáticas.

Hoje, mais drones que satélites, uma nova era na exploração marinha

“Em um ano, a Saildrone espera implantar mais de 100 drones para dar a primeira visão abrangente dos oceanos e como e por que o clima está mudando, diz o fundador Richard Jenkins. Em alguns anos, o Saildrone planeja implantar mais drones no oceano do que há satélites orbitando a Terra.”

A NOAA usa drones

Até a agência norte americana, a NOAA, utiliza os serviços do drones. Segundo a matéria, “o programa de dados serviço prestado pela Saildrone custa US $ 2.500 por dia, e os clientes atualmente incluem a pesca comercial, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, a Guarda Costeira dos EUA, e o Departamento de Segurança Interna.”
John Dabiri, professor de engenharia civil e ambiental e mecânica em Stanford, diz que a superfície do oceano é relativamente mal amostrada e há uma necessidade de formas de baixo custo para coletar dados.”

Drones no Alasca

“Jessica Cross, uma oceanógrafa da NOAA, é uma dos três principais pesquisadoras que utilizam o Saildrone (e outras tecnologias) para estudar como o Oceano Ártico absorve o dióxido de carbono, e como isso afeta as populações de peixes, a cadeia alimentar e a pesca de subsistência e comercial. Ela diz que cerca de 60% da pesca comercial mundial é feita no Alasca, o que significa que os peixes nessas águas contribuem para a segurança alimentar em todos os lugares.”
                             Exploração marinha, e drone em alto- mar (foto: saildrone)
A Saildrone não visa substituir outros sistemas de pesquisa oceânica, diz Cross. Navios, bóias e satélites ainda são necessários, mas Saildrone oferece aos pesquisadores uma visão ampliada dos cantos remotos dos oceanos do mundo.”

Uma rede de drones nos oceanos

“Agora, o Saildrone tem 20 barcos drone que realizam tarefas específicas, como medir dióxido de carbono e contar peixes. Os dados são transmitidos para um satélite e compartilhados com pesquisadores em tempo real. Uma vez que uma rede de centenas ou milhares está em vigor, diz Jenkins, o potencial de Saildrone se reunirá, pois forma uma constelação de pontos de dados interconectados no oceano que rastreia o clima da Terra de pólo a pólo.”

Fonte: Mar Sem Fim via https://www.inc.com/will-yakowicz/disruptor-25-2017-saildrone.html?cid=sf01001&sr_share=twitter.


segunda-feira, 12 de março de 2018

Pesca artesanal, e seus malefícios, é confirmada por pesquisa da FAPESP

A renomada Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) é uma instituição de fomento à pesquisa. Ela é um braço da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do governo do estado de São Paulo. Em janeiro de 2018 a agencia.fapesp.br publicou a matéria “Ausência de políticas de conservação de cardumes ameaça espécies de peixes“, assinada por Peter Moon. A pesquisa confirma a pesca artesanal, e seus malefícios.
 Pesca artesanal, e seus malefícios: nas praias do Rio Grande do Sul pescadores soltam enormes redes na área de arrebentação!

Os problemas da pesca no Brasil

O texto lembra que o problema não é exclusivo, mas mundial. Ressalta que “a redução na diversidade do que é pescado e a diminuição no tamanho dos peixes capturados são grandes desafios para a atividade.” E sugere que para enfrentar a situação seriam necessárias “políticas de conservação de cardumes e de pesca sustentável.”
Com políticas de conservação, concordamos. Mas, por incrível que pareça, a lenda da pesca sustentável persiste ainda que a própria matéria a desminta.

Vinte anos de estudo sobre a pesca artesanal em comunidades tradicionais

O autor  lembra que entre as várias situações da pesca, ” há os econômico-ecológicos ligados à pesca em pequena escala e que escapam às estatísticas dos organismos de fiscalização governamentais.” É verdade, o Mar Sem Fim já publicou matérias sobre isso quando mostramos que o problema não se restringe ao Brasil. Moon cita um estudo liderado por Alpina Begossi, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação (Nepa) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), feita nos últimos 20 anos em sete comunidades de pescadores artesanais no litoral sul do Rio de Janeiro e norte do Estado de São Paulo.

Pesquisa confirma pesca, a pesca artesanal, e seus malefícios

A primeira radiografia foi publicada na revista Ambio. A conclusão? Alpina Begossi:
"Temos reunidos 20 anos de dados de consumo da pesca artesanal. No período, fizemos o registro das espécies de peixes consumidas e constatamos a sua crescente escassez com o passar dos anos, o que está em concordância com os indícios de que algumas espécies estavam sendo superexploradas, enquanto outras entravam para a lista vermelha das ameaçadas"
Nas sete comunidades de pesca artesanal analisadas  as  espécies mais citadas  foram “a anchova, a pescada, além da corvina, garoupa, peixe-espada, xarelete, tainha e imbetara ou betara.” Segundo a matéria “das 65 espécies mencionadas em 347 entrevistas e mais de 1,5 mil coletas sobre consumo, cerca de 33% tiveram redução de população desde o início do estudo em 1986, enquanto para 54% das espécies capturadas a situação de seus estoques é desconhecida de acordo com dados da União Internacional para a Conservação da Natureza.”
E, atenção para este dado, ” a maioria das espécies mencionadas é preterida pela pesca comercial pelo baixo volume dos cardumes. Por isso mesmo, elas têm maior valor individual e são fornecidas a restaurantes especializados no eixo Rio-São Paulo.”

‘Maioria das espécies é preterida pela pesca comercial’

Se elas não são visadas pela pesca comercial, quem seriam os responsáveis por seu desaparecimento? Mais uma vez passamos a palavra à autora, Alpina Begossi:
"Há espécies que eram comuns nos anos 1980, como a garoupa, mas que rarearam bastante. Hoje ainda se encontra garoupa, mas de tamanho menor. Já um peixe do mesmo gênero como o cherne, este não se vê mais. Não é mais citado pelos pescadores. É um caso crítico…"
Ela acrescenta que…
"Como resposta à ameaça aos cardumes, o governo brasileiro já estabeleceu diversas proibições à captura das espécies ameaçadas de extinção, sem, entretanto, incluir medidas de manejo da pesca e sem incluir prioridades no estudo dessas espécies"
E, então, os dados confirmam, ou não, a pesca artesanal, e seus malefícios?

No Brasil não há estatísticas sobre pesca, muito menos, fiscalização

Este site não se cansa de alertar para o fato de que nossa zona costeira  está ao deus-dará. Não há fiscalização por parte do órgão responsável, o Ibama. Não por falta de vontade, mas de recursos. Pode parecer inacreditável, mas o órgão tem apenas três barcos para fiscalizar nosso imenso litoral. Com esta realidade, cai por água a justificativa de que governo brasileiro já estabeleceu diversas proibições à captura das espécies ameaçadas de extinção. De que adianta proibição sem fiscalização? Quanto à prioridade nos estudos, o Mar Sem Fim concorda. A pesca no Brasil é uma esculhambação. Faltam, não só estudos prioritários, mas até mesmo estatísticas. Como fazê-los sem estatísticas?

Manejo sustentável da pesca?

Esta é outra falácia que perdura no meio acadêmico, e mesmo entre ambientalistas, especialmente os designados “socioambientais“. Este site já percorreu o litoral brasileiro do Oiapoque ao Chuí por três vezes, além de milhares de viagens menores. Navegamos mais de 30 mil milhas apenas no mar brasileiro. Em todas as viagens nosso foco eram os problemas da costa, sobressaindo entre eles a destruição da paisagem, o sumiço de ecossistemas, e a pesca.
 A pesca artesanal, e seus malefícios: pescadores artesanais da RESEX Soure (ilha do Marajó), fecham a boca do rio com redes.
Visitamos todas as Unidades de Conservação federais do litoral, especialmente as 19 RESEX, ou reservas extrativistas onde supõe-se que a pesca seria sustentável. O ICMBio assim as define: “o foco é estabelecer estratégias promissoras de produção extrativista e uso sustentável dos recursos naturais; implementar políticas públicas universais e específicas; e subsidiar a formulação destas políticas.”
Apesar do desejo, a realidade é outra. Em todas ouvimos o mesmo mantra: “acabou a pesca, diminuem os crustáceos”, confirmando nossa impressão da pesca artesanal, e seus malefícios. Em algumas, como a RESEX de Cassurubá, na Bahia, já houve até mortes entre pescadores pela disputa, cada vez mais rara, do pescado…

O problema é mundial

Parece que nosso atraso jamais será superado. A maior referência mundial em assuntos ligados aos oceanos, Sylvia Earle, em seu clássico livro, “A Terra é Azul – Por que o destino do oceano e o nosso é um só?” (Editora SESI- SP), publicado originalmente em 2009, dedicou um capítulo ao que batizou como “o mito da produção máxima sustentável“. Nele, a cientista comenta, entre outros, a pesca de arrasto no mundo…
"…fez com que várias espécies tivessem sua população reduzida em 90%. Para algumas, como o atum- rabilho, o bacalhau do Atlântico e certos tubarões, a taxa chega a 95%. E sua pesca ainda é permitida".
Note, o “e sua pesca ainda é permitida“. Isso, segundo ela…
"…levou ao desaparecimento de 90% das grandes espécies, justamente as melhores matrizes…"
Sobre ‘sustentabilidade’ disse ela,
"O conceito é brilhante…no entanto a tendências das populações é não seguir regras…A maioria dos modelos de sustentabilidade se baseia em contingências, mas, no oceano selvagem, é impossível saber (quanto mais controlar) o que é presumivelmente imprevisível."
O Mar Sem Fim concorda. Foi exatamente o que vimos ao visitar as famigeradas RESEX. Pescadores cercam totalmente bocas de rios, pescam espécies mesmo durante o defeso, retiram do mar outras abaixo do tamanho mínimo, quando não usam armadilhas macabras, como bombas, por exemplo. E todas estas práticas são ‘proibidas’. Pior: os próprios pescadores sabem do malefício que estão praticando. Mas…
Ainda tem quem acredite em ‘manejo sustentável’. Onde?

Pesca, o problema tem solução?

Sim, o estudo sistemático, profundo e abrangente mostra que ainda há tempo. Sylvia Earle diz como:
"desenvolver uma rede global de áreas de proteção integral no oceano, os ‘pontos de esperança’, me pareceu um desejo relevante e capaz de ajudar na proteção e recuperação da saúde do oceano"
Em tempo: unidades de conservação marinhas de proteção integral são os berçários protegidos de onde nada pode ser retirado. Sejam recursos vivos, ou não. Justamente o que falta ao desprotegido mar brasileiro. Apenas 0,05% de toda a zona exclusiva econômica brasileira, com aproximadamente 3,6 milhões de quilômetros quadrados, ou 40% do tamanho do Brasil, está protegida de forma integral.
Fonte: Mar Sem Fim via http://agencia.fapesp.br/ausencia_de_politicas_de_conservacao_de_cardumes_ameaca_especies_de_peixes/27001/.